25 de novembro de 2008

Quando cheguei em São Paulo

Decolar foi difícil, antes de pousar deu vontade de ir na cabine e pedir ao piloto para inverter as coordenadas retornando para Aracaju. "Tripulação, preparar para pouso". Ainda naquele monte de nuvem misturado com poluição não estava muito certa do que estava fazendo naquele domingo. Quando descemos um pouco e comecei a ver prédio até onde a vista alcançava no lugar da linha do horizonte me senti tranquila, estava em casa. Sempre sinto-me em casa nesta cidade.
Paixão. Falem o que quiserem de São Paulo, adoro essa cidade. Tudo aqui é muito grande. Vai ver é porque tenho 1,63m. Tem muito espaço, tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, tem muita gente. Tem muito homem branquinho (é uma fartura de Galaks, tô vendo a hora de abusar e começar a achar interessante homens tipo os componentes do Olodum)!
Stress. A prova de que o povo daqui é estressado está atrás do cartão de passagem integrada entre metrô e ônibus. Está escrito "Cuide-se: evite fumar e abusar de álcool e calmantes." Nem falaram sobre drogas. Eles reclamam quando o metrô pára por segundos. A cada 3 minutos passa um trem em dias de semana e finais de semana os trens passam de 5 em 5 minutos. A gente aí espera só isso no ponto de ônibus? E eles não esperam metrô no sol escaldante, misturado com a poeira que os carros levantam ao passar pelas ruas "pavimentadas". Mesmo se a gente esperasse, chega em menos de 10 minutos no destino? Obrigada por concordarem que eles aqui se estressam a toa.
Estréia no trabalho. Meu primeiro dia de trabalho foi em meio ao caos nos aeroportos que o Brasil inteiro acompanhou por tevê, internet, jornais. Por falar em jornais, a única agente da Gol de Congonhas que saiu em foto na Folha de São Paulo naquele feriadão é esta que vos escreve. Nada mais justo minha chegada em São Paulo ser documentada pela mídia nacional. Na hora em que me vi, lembrei da música do Lulu "o meu destino é ser star". :) Só fazendo piada, porque no final daquele dia quem olhasse pra mim já tava errado.

Micos. Até o momento nenhum grave. Só de vez em quando ir pra o lado errado da estação no metrô. Vou dar uma de turista e pedir aqueles mapinhas daí não me perderei mais, nem precisarei ficar estudando os grandes que ficam nas estações para orientar.
Clima. De tardinha quando saio do trabalho noto com frequencia que as únicas pessoas a usarem casaco são os executivos engravatados, velhinhos que já sentem os efeitos da artrite e eu. Aqui também demora muito pra ficar escuro. Às 18 horas aqui parece cinco e pouca. Não entendi a moral do horário de verão.
Desbravando a cidade. Por enquanto só conheci, além do pouco que já explorei de outras vezes, o pátio da escola onde São Paulo começou perto da Sé. Tem um monumento bacana.
Paixão por placas. Aqui em tudo tem placa, o que é bom para se orientar. Mas o povo aqui é meio doidinho. Pregam placas assim: Imobiliária X alugou ou Imobiliária Y vendeu. Agora para que interessa saber que o imóvel não tá mais disponível? Por que não tirar a placa de Aluga ou Vende quando o negócio fechar? A indústria de placas aqui deve faturar horrores.
Diferenças linguísticas. Estou a ponto de, ao próximo "meu" que falarem se dirigindo a minha pessoa, explicar que "meu" de onde venho é um pronome possessivo para identificar algum pertece do gênero masculino.
Revanche. Pau da Lima, Rio Vermelho, Mussurunga, Sussuarana são motivos para gracinhas com baianos. Devolvam com Itaim Bibi. Sério, parem de ler e pronunciem Itaim Bibi. Não é engraçado? Parece onomatopéia. O nome não diz pn! Descobri que eles tem Itaim e Itaim Paulista. São três bairros diferentes, hein? Vai gostar de Itaim assim lá longe...
Paulistas e cariocas. Essa é uma guerra perceptível em todos os níveis que você imaginar. Estavam perguntando se aí em Aracaju tinha McDonalds. Após respirar fundo e explicar que não morava no meio do nada, passamos por um outdoor do supermercado Extra. Falei com a pronúncia fechada sem maldade. Fui corrigida imediatamente: Êxtra não, Éxtra, quem fala Êxtra é carióca, porrr favorr! Repliquei: por favor só tem dois errés, não precisa falar com mais de um que eu entendo!!

Moradia. Divido apartamento com uma amiga, numa rua subindo o metrô da Vila Madalena. Ouço passarinhos cantando de manhã e tenho um vizinho violinista. Arrocha com a glória do Senhor não ouvirei tão cedo.
Amigos. Tenho 4 aqui e estou conhecendo novos. No primeiro dia indo para o trabalho, outra Goleira no mesmo vagão do metrô, fomos juntas para o trabalho. Voltando no segundo dia um Goleiro a paisana veio me cumprimentar. Fiquei até com o pé atrás, mas ele se identificou. Parece que estou cercada de amigos invisíveis, que se revelam aos meus olhos aprendizes para perceber a vida de uma megalópole, isso faz com que me sinta em casa.

Resumindo: Estou feliz da vida. Muita coisa para aprender, para viver, pra curtir. Mais uma naturalidade agregada. Sou uma feirense, soteropolina, aracajuana e paulista. Pra mim tá de bom tamanho, mudar é bacana, mas estressa. Os paulistas não sabem o quanto...

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