29 de outubro de 2007


É minha folga. Minha agenda era para ser assim...

10h30: Previsão de levantar, calmamente.
11h: tomar suco e ver tv.
11h30: sair para encontrar amigas para almoçar, uma delas está partindo pra Londres
14h: passar no shopping, comprar uma meia-calça
16h: primeira sessão de acupuntura.
18h: voltar pra casa relaxada e surfar na internet
20h: ver tv até a hora de sentir sono.

Minha agenda modificada pelo universo...

10h28: acordo com o interfone. É o porteiro dizendo que o encanador está subindo. Digo que é um engano tá tudo certo com meu apto. Ele pergunta se não me avisaram. Digo que não.

10h32: o interfone toca de novo. Agora é o zelador informando que o encanador vai mesmo subir para quebrar a parede do banheiro porque a coluna está podre.

10h33: sou obrigada a trocar a camisola rápido, lavar o rosto correndo, escovar os dentes alucinada porque um encanador vai esburacar meu banheiro.

10h40: chegam dois encanadores (era um na conversa). Se apresentam e avisam que será necessário quebrar tudo, mas farão a menor sujeira possível.

10h50: ligo para o consultorio para confirmar o horário e número do local, tenho apenas o nome da rua. Sou informada que aconteceu um imprevisto e minha acupuntura foi cancelada.

11h00: os encanadores informam que vão perfurar meu apto até aparecer o de baixo. Nem para morar no 105 um homem bonito que esqueça do buraco no teto e passe nu para tomar banho.

11h30: entro a primeira vez no banheiro e está um cano a mostra, todo estufado, e os encanadores conversando "é, vamos ter de fechar a transmissão aqui antes que o cano exploda, aliás nem sei ainda porque não já aconteceu isso."

11h39: o interfone toca de novo, é o porteiro informando que vão cortar a água por volta das 14 horas. Saí do nordeste para passar por escassez de água em São Paulo, tá certo...

11h50: desmarco online com minha amiga o almoço, se eu sair posso perder a inundação que está prestes a acontecer no meu apartamento.

11h58: os encanadores saem do apto depois de retirarem todo o entulho, voltam logo mais.

12h10: vou tomar banho, ver um pouco de tv, e quando os encanadores voltarem, lá pelas 14 horas, vou entregar a chave para o zelador, mandar ele tomar conta do negócio e vou ganhar a rua. Minha agenda vai voltar a ser minha e não do cano podre e estufado que por um acaso ainda se encontra na parede do meu banheiro.

30 de julho de 2007


'Destá' paulistas. Todo santo dia tem um engraçadinho que vem perguntar: tá gostando do friozinho, baiana? E aí Aracaju, curtindo o frio? E eu, parecendo o boneco da Michelin de tanta blusa, capote, luva, gorro e cachecol respondo (tentando colocar a boca pra fora da indumentária básica de inverno) "é uma experiência diferente".


Quando é hoje, um frio miserável, recebo um torpedo: que tal o friozinho? Repare só, até via torpedo.

Friozinho em minha terra é quando você sai de casa e sente uma lufada de ar um pouco mais fria, de quando em quando, nada que uma blusa de manga comprida não resolva.

Quando está friozinho os termômetros não marcam 8 graus às 18 horas, muito menos 3 graus durante a madrugada.

Friozinho não tem nada a ver com você andar pelas ruas e perder a sensação de seus dedos.

Friozinho nem de longe faz você botar em xeque a famosa teoria da evolução do renomado naturalista britânico Darwin, cogitando a possibilidade de não ser descendente de macacos, mas talvez de cachorros, porque seu nariz está sempre gelado e escorrendo.

Friozinho não é aplicável para um tempo onde ao tentar escovar os dentes sua boca fica dormente se usar água da torneira.

Quando você sente um friozinho não pensa que existe a possibilidade de ter uma crise de hipotermia antes de chegar em casa.

Ao tomar banho no friozinho não dá caimbra em seus pés e mãos porque eles estão muito mais frios do que a água do chuveiro quente.

Esse negócio de friozinho não retrata a realidade de passar ferro na cama antes de dormir ou ficar apreensiva antes de sentar no vaso sanitário de madrugada para fazer um simples xixi com medo de ter um choque térmico.

Mas Deus é justo... Ainda estarei curtindo umas férias na Bahia, deitada numa rede, naquela maresia de verão, e vai passar por mim um paulista, ah vai! Vermelho igual a camarão, bufando com o calor escaldante do meio-dia, daquele meio-dia caprichado que torra o miolo do caboclo, e minha alma vai se encher de alegria quando fizer a pergunta "que tal o calorzinho, hein?".

15 de junho de 2007

Num belo dia de sol, aconteceu a primeira greve de metrô desde que cheguei. Emocionante levar 48 minutos da minha casa para a Paulista (normalmente são 6 minutos de metrô). Já tinha ficado duas horas para fazer o trecho Campo Grande - Ondina, mas ontem foi pior. Quando já ia me aborrecendo, mudei de idéia. Comprei um suco e fiquei esperando pacientemente meu ônibus naquele mundo de carro. Depois de quase 3 horas cheguei no trabalho.
O que posso dizer? Sobrevivi. E continuo amando São Paulo!

25 de maio de 2007

Frio, frio, frio. Muito frio! Tô quase virando um picolé baiano pelas ruas gélidas de São Paulo. E ainda é outono...

29 de março de 2007

Caderninho verde

Engana-se quem acha que aqui minha vida é só sair no Jornal Nacional, Folha de São Paulo, comprar baratinho na 25 de março e atender Thiago Lacerda.

Desponta na fila um cidadão super bonito, menos de 1,90 não tinha, raspou a cabeça mas estava pra lá de charmoso, com um blaser impecável, umas malas pesadas, toda pinta de gringo.

Deu um sorriso super carismático e veio para atendê-lo. Foi a última vez que lembro que olhei pra ele feliz. Ao lado uma mulher. Conversavam em inglês.

- Hi! We are going to Confins. Ele falou com aquela voz de narrador de trailler de filme.
- Hi! Passaports please. Which time your flight?
- Três e quinze - a mulher respondeu entregando o passaporte brasileiro dela e um caderninho verde água, igualzinho a um passaporte, do bonitão.

Começo a examinar o caderninho. Tinha escrito 'Travel Document' e um brasão do Tio Sam estampado na capa em dourado. Dentro uma página com a foto do gato, o Alberto, com um tipo de visto. Na página anterior em letras grandes 'THIS IS NOT A PASSPORT". Preciso de passaportes para fazer check-in.

- Sra, o passaporte do Sr. Alberto, por favor.
- Ele não tem passaporte. É exilado nos Estados Unidos.

Olho de novo o caderninho. Olho o visto com a foto dele. Olho o 'Name': Alberto. Olho o 'Surname': Escobar. Dou mais uma olhadinha para Alberto. Olho pra o visto de novo. Olho a sigla do 'Country': COLOM. Que país é "cólom"? USA é Estados Unidos, PER é Peru, AGO é Angola, ISR é Israel, JPN é Japão, URY é Uruguai, CHN é China, FRA é França, ARG é Argentina, GBR é Grã-Bretanha, D é Deutch, Alemanhã. COLOM? Escobar.."cólom"? Colôm? Seria Colômbia?

Colômbia, Escobar, Pablo Escobar, Cartel de Medellín, Poderoso Chefão, Os Intocáveis, A Máfia no Divã. Como é mesmo o nome do passageiro? Alberto Escobar, procedente da Colômbia e exilado... E, naquele instante, devo ter ficado branquinha igual ao pó. O vento poderia ter me levado para longe dali, que nem leva o pó. A Bahia seria uma boa pedida.

Pedi um minuto alegando que como não era um passaporte teria de consultar a supervisão. Entrei, respirei na tentativa do sangue voltar para a pele junto com o oxigênio, informei o que estava acontecendo, analisamos o documento, tinha o carimbo da Policia Federal brasileira aceitando a entrada dele no país, então volto pra o check-in, tentando sorrir. É difícil sorrir nessas circunstâncias. O músculo da face não te obedece mais que uma fração de segundos. Você manda ele ficar lá, ele não fica, é terrível!

Peço as bagagens, rezando para todos os santos, de todas as religiões, para não ultrapassar 46kg, assim em 1 minuto estaria livre dele e do caderninho de exilado. Rezei pouco. Nove volumes, sendo quatro caixas de Johnnie Walker do maldito Duty Free. "Hirro de una putana!" Alberto pede gentilmente para tomarmos cuidado, colocar frágil nas caixas, fala em espanhol agora.

Um idiota vendeu a passagem e ia sobrar pra mim. Enquanto verificava as caixas e cobrava o excesso, aparecer do nada, misturado com aquele monte de gente, homens mal-encarados com armas pesadas, cheios de óculos escuros abrindo fogo e eu ser cravejada de balas no check-in. Que jeito mais indigno de morrer... O máximo que o futuro me reservaria seria a imortalidade com as pessoas passando a dizer "Quer tapar o sol com uma Andréa?"

Até hoje não creio em como cobrei tão rápido 40 quilos de excesso passando o American Express do Alberto. Não era Gold, não era Platinum, era um cartão dourado com rajas prateadas, não sei qual é aquele. Não perdi tempo olhando detalhes, Alberto precisava sair da minha frente ligeiro pra sofrer a emboscada em outra freguesia. Quem mandou ser um Escobar? Eu sou uma Freitas, não tenho nada a ver com isso!

Pense um medo. Podia nunca mais sair do metrô e ver as árvores da Vila Madalena. Podia nunca ter ido às inúmeras exposições e museus e podia nem ter inaugurado minha carteira de estudante. Podia não ter acordado hoje e conversado com uma grande amiga da Suécia que espera o nascimento da sua primeira filha, Hannah, para os próximos dias. Podia não ter recebido a ligação da editora que ficou de mandar um livro muito legal e informar que mandaram para o endereço errado, para eu aguardar; podia não ter recebido o livro em alguns dias. Podia não ter lido o torpedo de minha irmã informando que estava de volta ao trabalho e o de outra amiga me dando boas notícias sobre um processo seletivo. Podia nunca mais tanta coisa.

A partir de hoje, nunca mais é para caderninho verde água com estampa do brasão norte-americano. Exílio para os caderninhos!
Causos do caos

Falta de informação dos atendentes. Que tal dos passageiros?

Homem chega esbaforido no check-in e vai me dizendo:
- Meu vôo para Florianópolis é 12h30, quero fazer o check-in.
Como não tínhamos vôo nesse horário, pergunto:
- O senhor tem aí o código localizador?
- Não.
- Tem certeza que o Senhor é passageiro da Gol?
- Claro que não sou Gol, sou Varig.
- (?!?!) Sr., aqui é o check-in da Gol.
- Sim, mas e você não pode fazer meu check-in?
- (?!?!?!?!?!??!?!?!) Não posso. Como o Senhor comprou pela Varig, seria interessante se dirigir ao check-in da companhia aérea na qual o Sr. comprou o bilhete.
- Entendi... (desapontado) E onde fica o check-in da Varig?
- Aqui ao lado.


Lista de espera. Aparece quem a gente menos espera.

Vôos lotados, onde estou? Na lista de espera. É um tormento, gente doida pra embarcar e você sem lugar para vender. Além disso, o check-in da lista de espera é o último, longe da entrada da fluxo. Para um passageiro avistar você é dificil. Bem, pelo menos para eles me avistarem é difícil. Só falto dar cambalhota.

Começo a pensar que se tivesse 1m90 e fosse loira passageiros da ponte aérea da Tam veriam quando os chamasse. Mas não, baixinha e cabelos castanhos, para ser invisível faltou pouco.

No auge da revolta genética eis que surge em minha frente o maravilhoso Thiago Lacerda. Queria uma passagem para o Rio. Além de bonito, sortudo: o primeiro passageiro que deixou o nome na lista não apareceu. Enquanto fazia a venda ele conversava. "Andréa, você é de onde?" Reparem, Thiago Lacerda falou meu nome! "Da Bahia, sou baiana". "Ah, sua terra é linda". Pensei: "Não tão linda quanto você, fofucho!".

Acabo de atendê-lo e vem um outro jovem, bonito também, mas depois de ver Thiago Lacerda ele parecia o Corcunda de Notre Dame.
- Moça, passagem para o Rio, agora 14 horas, tem?
- O vôo acabou de lotar, vendi a última passagem (olhando para Thiago Lacerda que se afastava).
- Vendeu pra Thiago Lacerda???
- Hum rum.
- FILHO DA PUTA!
O homem disse isso com um ódio tão forte, que na verdade deu pra ouvir: Não basta ter todas as mulheres do mundo suspirando por você ainda levou o último lugar do avião?


Caos de feriado.

Um tiozinho (como eles dizem aqui em São Paulo) entra pedindo hoje, sábado de carnaval, uma passagem para Salvador, todo animado, pronto para curtir a folia.
- Estamos lotados, só amanhã cedo.
- Sério? Não tem como eu chegar em Salvador hoje?
- Infelizmente não, o senhor pode tentar lista de espera.
- Quanto está amanhã?
- R$854,56*
- Vou pesquisar e qualquer coisa volto.
Daqui a pouco quem está na fila? O Tiozinho. É verdade, atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu.
- O Sr. quer aquela passagem para Salvador?
- Não, quero ver se amanhã tem vôo para Curitiba.
- (???) Tem, R$342,56*
- Certo... deixa anotar. E de Curitiba para Porto Alegre?
- Amanhã está R$145,56
- Ok... E de Porto Alegre para Imperatriz, no Maranhão?
- (será que ele sabe que nada disso fica perto de Salvador?) Bem, custa R$900,56*.
- Vou dar uma pesquisada e volto.
Mais uns 10 minutos e quem está de volta na loja da Gol? Tiozinho. Já estava preparada para ele perguntar os valores para Macapá ou Lima.
- Mocinha, sabe me dizer onde pego ônibus para rodoviária?
- ?!?!?!?
Provavelmente ele vai fazer todas essas perguntas na rodoviária. Que Deus dê paciência para o cidadão que está lá.
* valores aproximados, não lembro de cabeça o tarifário.

Indo de Congonhas para Guarulhos.

- Onde fica o ônibus da Gol que leva a gente para Guarulhos?
- Ali senhor - aponto para o local. Bem próximo de onde estão aqueles ônibus "Airport Service".
- Do lado de fora?
- (Não, que é isso? Imagina se vai ser do lado de fora? A reforma em Congonhas é tão inovadora que os ônibus circulam pelos corredores internos junto com vocês, carrinhos de bagagem e fazem paradas especiais nos cafés da praça de alimentação no saguão central) Isso, ali fora. Exatamente ali onde estou mostrando para o senhor.

6 de março de 2007

Depois de quase 4 meses em uma nova cidade, essa é a primeira postagem. Havia perdido a senha.
Estou tentando me encontrar agora.