25 de novembro de 2008

103 na fita!

Ontem fui num aniversário difícil da gente ir. A aniversariante fez 103 anos. Se não fosse minha avó, pediria a certidão de nascimento. Milu continua com o humor mordaz.

Semana passada fui visitá-la e perguntei por tia Hulda. "Saiu, aliás, a vida de Hulda é na rua, é uma tal de programação da 3ª idade... Todo dia isso. Vou promover ela pra quarta idade logo para ver se sossega em casa". Se gostaram dessa leiam essa fresquinha, de ontem. Depois do almoço, levaram ela para descansar. Não demorou muito chamou queria voltar para a folia. Um prima perguntou: "A senhora não quer descansar mais?" resposta na lata "Não, quero ir, a festa é minha ou sua?".

Não se espantem, mas eu e minha avó temos a idade parecida, ela é tão jovem! A diferença é que ela viu só 26280 vezes mais o sol nascer que eu.

Minha avó é revolucionária. Teve coragem de mudar a própria vida de ponta-cabeça, teve coragem de dar 18 vezes vida para outros seres humanos virem aqui ver como é bom estar vivo, teve coragem de desafiar até o tempo só para estar hoje conosco.

Milu viu tanta coisa nesses 103 anos que precisaríamos de uns 100 anos para contar tudo. Mas quem quiser saber pode perguntar a ela e se prepare. Não vai ouvir ela se lamentar e uma vez caí na tolice de perguntar o que foi mais difícil nessa jornada e a resposta foi "minha filha, só aconteceu coisa boa em minha vida, o que não foi muito bom, sabe que nem me lembro?". Essa amnésia consciente é o segredo: ela curtiu esses 103 anos!

Todos que passam dos 100 curtiram literalmente a vida, e é por gostar tanto dela, que ela, a vida, os deixa aqui mais tempo para mostrar aos outros como tudo é tão sensacional! A vida é fantástica, como esses 103 anos de minha avó.

Estou falando avó, mas deve ser sensacional ter uma mãe com essa idade ou uma prima, uma irmã, uma tia, uma bisavó, uma tataravó que só pode ter essa idade. E não é que ela é tudo isso com essa idade?

A beleza estonteante dos 103 anos está em cada fio branco, em cada ruga, em cada sorriso, em cada piscar de olhos, em cada graça que faz, em cada lembrança que tem de cada um de seus descendentes, em cada aperto caloroso, em cada não-cerimônia para se retirar para sua soneca vespertina. Quem quiser conhecer minha avó, fotos no orkut.

Sagacidade, fraternidade, simplicidade, cumplicidade, vivicidade, sinceridade, eternidade cabem bem nessa idade, não acham?

A vida está de parabéns, afinal foi aniversário de Emiliana e um presente para todos nós.
Parabéns, vó!

P.S.: Se a genética tiver me beneficiado, aguardem em 72 anos e receberão o convite para os meus 103 anos. :)
Romeu e Julieta

Meu estômago hoje ferveu, acontece quando sinto o stress em nível alto. Com o que assim? Com as coisas de Feira, claro. Se eu cair dura de uma hora pra outra nem precisa fazer necrópsia. Causa mortis: Feira de Santana.
E
ncomendamos o letreiro para a Romeu e Julieta. Fiz na metragem, coloquei o arquivo no CorelDraw, fontes em curva, tudo lindo, pronto para alguém imprimir na lona, colocar na armação de backlight e me devolver, sem erro.

Depois de duas semanas o cara me aparece com o letreiro com alguns erros. As letras que dizem "pastelaria" e "doceria" estavam maiores do que a marca. Justificativa: de longe, do tamanho que você colocou não daria leitura. Pode até ser, mas daí aumentar 1500% do tamanho original acho muito. Depois, porque tinha "muito branco" ele "tomou a liberdade" de colocar um telefone (já proibido anteriormente). Pessoas que tem problema com espaços em branco, devem ter problemas com o silêncio, com a normalidade, com a falta de poluição visual.

E para gran finale, tcham, tcham, tcham, tcham: os smiles de Romeu e Julieta estavam modificados. Em cima do bonequinho do Romeu tinha o cabelo da Julieta (aviadando o smile) e faltava à Julieta SÓ os dois olhos. Pensando bem, era o casal perfeito: apenas uma mulher cega se apaixonaria por um gay.

O cara me volta hoje. Pergunte se ele endireitou o letreiro. Embora Romeu já não tivesse o pimpão ondulado, a Julieta em compensação tinha os olhos quase no lugar do nariz. Pelo menos agora já tem olho... E o nome "pastelaria" e "doceria" estavam menores, em outra fonte totalmente diferente!!!

Na fonte que mais odeio neste mundo: IMPACT, fonte de borracharia. O melhor dessa fonte, além da masculinidade que passou para o nosso negócio é que foi utilizada com todos os caracteres em maiúsculo. "Doces pocados, robustos, para pesar no seu estômago, venha e se embuche!", podia ser nossa assinatura no anúncio para jornal.

Tenho uma sugestão para outra questão problematizadora para ser respondida juntamente com "Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?" é "Por que essas coisas acontecem em Feira?".
Ai, ai, ai, Tequilaaaa!

Bebida agora para mim só tem uma: tequila.

Turma legal, todo mundo num barzinho em Salvador, pra comemorar meu niver e de uma amiga, Nilma. Amava roskas. Agora só gosto delas. Muito boa a que pedi, também era muito cara, e tamos curtindo o ambiente aguardando a noite de música latina. Vejo Isis tomando tequila. Resolvo criar coragem, afinal 31 anos já é hora de tomar bebida forte.

Encarei o copinho, olhei bem para o líquido transparente pensando "É da cor de água, de vodca, deve ser inofensivo. Manda bala, Andréa!" Vai eu, na tequila, sem sal nem limão, no seco. AVE MARIA! Que coisa forte, ardida, provoca tosse antes mesmo de descer pela goela, o canal lacrimal funciona que é uma beleza nessas horas. Aí o povo, "toma com limão e sal que é bom". Bem, pior não poderia ser.

Eu achava, na minha ignorância, que limão e sal incrementava a coisa. O contrário. Você bebe a tequila e não sente NADA! Nem um ardorzinho de longe. Nada significa nada. Tomei em dois goles tudo. Achei lindo quando o efeito que ainda sentia de tontura da roska desaparecer como mágica depois do segundo e último gole da tequila. Priscila se preocupou. Empurrou batata-frita e Pepsi em mim. Igual à piada "tô tintindo nada" era eu por uns 5 minutos.

Depois disso, encarnei a versão feminina do Tocha, X-Men. Não sei se tava gatinha como o ator, mas pegando fogo eu tava. Foi instantâneo. O calor subiu igualzinho quando você risca fósforo na boca do fogão, num carvão em churrasqueira ou num rastro de gasolina. Permaneci tonta por umas 2 horas. Tempo suficiente para o mundo testemunhar eu dançar axé, funk (lembro de uma música do quadradinho e outra da cabecinha que eram duas misérias), Roupa Nova, reggae, arrocha, menos música latina, porque não tocou.

Divertidíssima a noite, como todas em que sempre encontro esses amigos, com um toque mexicano. Amigos e amigas, obrigada por aquela sexta, foi boa demais.
Passeando em Andaraí

Estive em Andaraí há uns 4 ou 5 anos. A cidade continua uma graça. Da primeira vez fui lá para um aniversário, dessa vez para passar o São João.

Andaraí não é a mesma sem D. Amélia, vó Amélia. Hoje ela deve estar colorindo os dias e falando com seu jeito tranquilo e sábio em outro plano. Possivelmente está fazendo sua renda de bilro também. E o copinho de abaíra com alho, será que ainda toma? Sempre que pisar lá, vou lembrar dessa senhora extraordinária, parecendo que saiu de um documentário da TVE direto para meus olhos.

Para quem não conhece Andaraí, é uma cidade pequena cheia de surpresas. Era, quer dizer, ainda é, local de garimpo. É possível ver trilhas e a ação dos garimpeitos nas pedras que contam a história da cidade. Tenho a impressão que se mexer, encontrarei embaixo de cada pedra algo novo.

Falando em pedras... O que leva um irmão mais velho ouvir a idéia de um mais novo? Um surto de insanidade talvez. Não sei para que fui apoiar meu irmão na brilhante idéia de irmos, sem guia, para o nome Andaraí, que fica no topo de um morro bem em frente a pousada onde ficamos, a Solar da Serra. Fora de trilha, levamos pouco mais de duas horas, só para ir. Chega uma hora em que todas as pedras são iguais, toda planta é cacto, todo minuto parece daquele sol do meio-dia, e todo lugar vai levar você para um canto diferente do que você quer ir. Além disso, no meio do mato, os gafanhotos têm o tamanho de pequenos pássaros (isso é pavoroso), praticamente voam, e todas as pedras são muito duras. E foi em nome dessa dureza que resisti heroicamente ao impulso de me arremessar em qualquer canto quando via os gafanhotos de um palmo que pulavam nos arbustos bem na minha frente.

Nossa sorte foram duas mulheres, lavando roupa num pedaço do rio, que nos ensinaram como voltar, senão estávamos até hoje tentando retornar, podem ter a certeza. Creuza disse "a gente nunca vem lavar roupa aqui, é mais lá em cima, mas hoje, porque o rio tá baixo, viemos cá". Quase bíblica a coisa, providencialmente divino como Moisés e o mar Vermelho. O rio baixou e fomos salvos.

Neste dia, meu sangue estava em ebulição e foi o tempo de botar um biquini e seguir para a área da pousada onde têm piscinas naturais e o ofurô. Sangue quente em contato com água gelada resultou em coração parando assim que submergi e o pulmão empedrou, senti como se o oxigênio tivesse congelado. Possivelmente o olho também esbugalhou, mas não tenho certeza. Deliciosa a sensação pós choque térmico. Meu corpo parecia uma fonte de calor nuclear, sentia as ondas de calor saindo de mim. Para completar o merecido mimo depois de horas perdida nas pedras, e um joelho machucado, saboreei um licor de jabuticaba docinho, já no ofurô. A vida é belíssima nessas horas.

Não podia perder nesta noite a festa no clube. Forró organizado para arrecadar fundos para a Festa do Divino de 2009. O salão quadrado do clube estava decorado e com luz negra, brinque! O forró comendo e o povo sem dançar. O músico mudou radicalmente o repertório. Começou a tocar "como é grande, o meu amor, por você..." e apareceu o primeiro casal. Zé Borracha e sua esposa. Dois velhinhos. A cena era quase de filme. Em Andarai tem muito disso, as coisas são muito clichês, muito como a vida acaba sendo e a gente faz de conta que não é. Apesar da idade avançada, ele conduzia ela com leveza, com carinho, com amor.

Zé Borracha tem nome, até me disseram, esqueci, mas explicaram que em Andaraí todo mundo tem apelido. Depois deles, vários casais, jovens e de meia-idade perderam a vergonha, arrastaram o pé, limparam a fivela, dançaram horrores. Tinha o cowboy florescente (a camisa branca na luz negra ficou sucesso!) e sua dama, tinha o Frankstein e sua companheira de história de amor-terror, repare. Frank é quase quadrado, lembra Bob Esponja, grandão, desajeitado para dançar e já caiu derrubando mais 2 casais em outra festa. Era casado com uma mulher e conheceu essa do salão, viraram amantes. O marido dela e a mulher de Frank, por vingança, também ficaram juntos e vivem felizes desde então e para sempre. Não é coisa de filme?

E o quase padre, que conheci no aniversário de 90 anos de Vó Amélia, vai se ordenar este ano estava lá na festa, se esbaldando de dançar, que nem na festa de Vó. Mas dessa vez, ninguém dançou, dançou e caiu morto, como da outra vez.

Apaixonei-me por Lupita, uma cadela poodle branca, pouco maior que a minha, com o triplo do peso. Está gordinha demais, mas um amor, dócil como a cidade. Nunca me viu e ficou em meus braços. Obviamente eu e a dona trocamos figurinhas e segredos caninos aprendidos. Conheci um Lupe, no rio, um filhote vira-lata, das duas mulheres que lavavam roupa. Foi o latido dele que nos mostrou elas na imensidão de pedras.

Andaraí me estréia em muitas coisas: experimentei no outro dia o São João de Casa em Casa. A concentração foi lá na pousada, daí o carro de minha madrinha saiu amplificando o som do trio pé de serra para todas as paradas onde as pessoas entravam nas casas dos amigos para beber licor e comer amendoim cozido, bolo... Desci a rua, passamos pelo rio, por uma praça, por alguns comércios e quando passei pela Guimarães Auto peças, uma loja enorme para os padrões da cidade, cansei. Antes do ponto final, um bar chamado Remelexo, voltei sozinha pela praça toda decorada sentindo os sons da noite de Andaraí. Minha alma estava em festa.

No outro dia, às 8 da manhã estava toda embecada para a trilha, dessa vez com guia e para locais mais longes. O Henrique foi ótimo! Sempre gentil, pra toda pedra mais difícil a mão dele estava me ajudando. Ele vai e volta ao Pati no mesmo dia, são 36km de terreno íngreme. Tomei a primeira queda, antes de chegar no destino, a mais dolorida, ele disse que fui batizada. Tomei a segunda queda, leve, e fechei o placar de jaca da trilha com a terceira queda. Depois dessa ele ficou preocupado, pegou minha mão e só largou quando já estavamos atravessando o rio vendo a pousada.

Passamos por pedras, cactos, pedras, cactos, pedras, cactos, mais um pouco de pedras e cactos, bromélias para variar o cenário e finalmente avistamos orquídeas. Gosto mais de girassóis e rosas, mas orquídeas são tão bonitas colocando cor na paisagem espinhosa e pedregosa de Andaraí.

Nosso destino era Três Barras, uma cachoeira de três quedas. Cachoeiras são estranhas. A água vai descendo a vida toda, naquele ritmo, não alaga o local. Combine tudo com o som da água em queda e com o frio característico. É magnético você se jogar lá, pra sentir a água gélida em seu corpo.

Voltei a tempo de festejarmos um aniversário e irmos para a folia na praça principal da cidade. Um grupo de forró, Bruninho do Acordeon, tocava um forrozinho e antes passamos no restaurante do Seu Mazinho, a cerveja mais gelada de Andaraí.

Tardes de jogatina de buraco com Hélio por perto. Figuraça de 5 anos, cabelo de cachinhos loiro, que vivia comendo biscoito, fã de qualquer super-herói conhecido e desconhecido. Ama incondicionalmente o Homem de Ferro e o Homem Aranha. Conhece a biografia do Superman, sabe do seu caso ultra secreto com a Mulher Maravilha (o que me deixou pasma), não dá muito crédito para a agilidade de The Flex (palavras de Hélio), e para a risada sarcástica do Doente Verde (isso, Doente, não Duende). O Spiderman, para ele é diferente do idolatrado Homem Aranha. Tem a roupa marrom, usa chapéu e tem uma corda que faz "titáááá", pareceu-me mais com o Indiana Jones ou Crocodilo Dunde. Temível apenas o Vampiro Branco, que ele jura que estava atrás de uma bandeirola que decorava a pousada.

A pousada teve, além do Hélio, mais 4 hóspedes infantis: João, Gabriela, Augusto (irmão do Hélio), e uma outra menina. Na hora da partida da Gabriela, Augusto ficou triste. Minutos antes, ela, que tem meses, brincava de jogar, repetidamente, no chão a flor que o avô dava pra ela e se acabava de rir vendo-o pegar e fazer caretas com a flor antes devolver. Augusto, que completou um ano, estava elétrico querendo entrar na brincadeira. Acompanhei a saga de Guto e Gabi do varandão do refeitório, tomando suco de caju, comendo bolo de aipim e senti algo inexplicável com a cena. Fui assaltada com a sensação de tranquilidade e de certeza de que serei e estou pronta para ser mãe. Sem dúvida mesmo depois de ter virado uma balzaquiana e com o aviso dos búzios contradizendo minhas neuras. Senti isso ouvindo a Gabriela sorrir aquele riso de cócegas e ver o Augusto rindo sem saber porque ela ria. Senti que estou pronta em Andaraí. Nessa cidade coleciono momentos ímpares.

Aprendi gíria. Gíria que é coisa dos mais modernos. Nem pense em dizer que um homem é moderno naquela terra. É sinônimo de homossexualidade. Frequentemente alguém alerta para não encostar porque "estou ficando atacado".

Vi também a primeira vez a dança da fita. Cada menina (pode ter menino também), pega uma fita e vão passando alternadas as fitas, trançando em volta do mastro e quando não mais podem fazer esse ballet colorido, vão destrançando. Divertido para quem vê, deve ser mais ainda para quem faz.

Desde o primeiro dia e a primeira noite em Andaraí, com a lua cheia, esse São João foi cheio de surpresas. Achei mais que diamante por lá esses dias. Garimpei sensações boas, novos amigos. Senti a vida, com a ajuda de todos os sentidos, lá no meio da Chapada, com suas 'ezas': incertezas, durezas, belezas, certezas e sutilezas.
Aconteceu em São Paulo...

Aqui continuo achando a cidade é linda, a vida aqui bem diferente, mas sinto como se fosse normal levar a vida assim, exatamente como agora. Do meu gosto, esse aeroporto tinha menos gente, mas até isso já não incomoda mais. Depois de ter ido para a estação da Sé, numa sexta-feira, às 18h10, ver gente amontoada não causa o mesmo impacto.

Não consigo ainda entender como eles conseguem ler jornal, faze rcrochê dentro do metrô. Porque ou presto atenção nos nomes das estações ou faço outra atividade. No máximo conversar com umacompanhante. É muito rápido o intervalo entre as estações, uma pequena desatenção e pimba, você já passou seu ponto, melhor, sua estação.

Tenho saído bastante com a turma, conhecido vários lugares e aindafalta mais uns mil para conhecer. Estou amando morar aqui. Mas, nem tudo são flores na vida de Joseph Clever, digo, Andréa Freitas.

Fui convidada pra um aniversário de uma colega da Gol. Super legal afamília dela, tem 7 cães na casa. Pensem minha alegria vendo tantos! Duas cadelinhas ficaram conosco dentro da casa, super lindas, tipo Mel e Bob. Vimos filme, jogamos Banco Imobiliário (tinha muito tempo quenão fazia isso), a tarde estava maravilhosa.

Conhecendo a turma, fazendo mais amigos, conversando sobre o queachava da cidade, tinha gente de fora que também contava o que sentiu quando veio para cá. Churrasco vai, churrasco vem, chegou a hora decortar o bolo.

"Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades, muitosanos de vida!" Até este momento não sabia o que era pagar um mico. Masnão é um mico, gente, é um Sr. Mico.

Aí vou eu, cantanto em alto e bom som, fazendo meu solo:
"CHEGOU A HORA DE APAGAR A VELINHA, VAMOS CANTAR, AQUELA MUSIQUINHA"(Senti que não estava muito sincronizado com o que eles cantavam, mas continuei alegremente tentando entrar no ritmo)

"PARABÉNS PRA VOCÊ, PARABÉNS PRA VOCÊ, PELO SEU ANIVERSÁRIO!" (Nessa hora foi que vi que eles não cantavam a mesma letra)

"QUE DEUS LHE DÊ" (percebi a cara do povo e fui diminuindo o volume)" Muita saúde e paz, e que os anj... (Nem mais meia palma, todo mundo calado me olhando).

"Oxente... vocês não cantam isso, nao?"

Que Deus livre vocês de um vexame assim! Pulem esta parte dos parabéns quando forem a um aniversário de um paulista. Eles sabem o "é pic, é pic", e distorcem para algo pornográfico. O "com quem será, com quem será" eles eventualmente cantam.

Fabricantes de refrigerante já poderiam ter desenvolvido garrafas petmaiores, para ser viável alguém se esconder atrás de uma, colocadaestrategicamente numa mesa de aniversário, tipo numa ocasião assim,cantando o que não deve.

Esses dias tem sido ótimos. A mudança está sendo fenomenal para, alémde fazer passar algumas vergonhas básicas, alimentar a alma com muitasnovidades.
Quando cheguei em São Paulo

Decolar foi difícil, antes de pousar deu vontade de ir na cabine e pedir ao piloto para inverter as coordenadas retornando para Aracaju. "Tripulação, preparar para pouso". Ainda naquele monte de nuvem misturado com poluição não estava muito certa do que estava fazendo naquele domingo. Quando descemos um pouco e comecei a ver prédio até onde a vista alcançava no lugar da linha do horizonte me senti tranquila, estava em casa. Sempre sinto-me em casa nesta cidade.
Paixão. Falem o que quiserem de São Paulo, adoro essa cidade. Tudo aqui é muito grande. Vai ver é porque tenho 1,63m. Tem muito espaço, tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, tem muita gente. Tem muito homem branquinho (é uma fartura de Galaks, tô vendo a hora de abusar e começar a achar interessante homens tipo os componentes do Olodum)!
Stress. A prova de que o povo daqui é estressado está atrás do cartão de passagem integrada entre metrô e ônibus. Está escrito "Cuide-se: evite fumar e abusar de álcool e calmantes." Nem falaram sobre drogas. Eles reclamam quando o metrô pára por segundos. A cada 3 minutos passa um trem em dias de semana e finais de semana os trens passam de 5 em 5 minutos. A gente aí espera só isso no ponto de ônibus? E eles não esperam metrô no sol escaldante, misturado com a poeira que os carros levantam ao passar pelas ruas "pavimentadas". Mesmo se a gente esperasse, chega em menos de 10 minutos no destino? Obrigada por concordarem que eles aqui se estressam a toa.
Estréia no trabalho. Meu primeiro dia de trabalho foi em meio ao caos nos aeroportos que o Brasil inteiro acompanhou por tevê, internet, jornais. Por falar em jornais, a única agente da Gol de Congonhas que saiu em foto na Folha de São Paulo naquele feriadão é esta que vos escreve. Nada mais justo minha chegada em São Paulo ser documentada pela mídia nacional. Na hora em que me vi, lembrei da música do Lulu "o meu destino é ser star". :) Só fazendo piada, porque no final daquele dia quem olhasse pra mim já tava errado.

Micos. Até o momento nenhum grave. Só de vez em quando ir pra o lado errado da estação no metrô. Vou dar uma de turista e pedir aqueles mapinhas daí não me perderei mais, nem precisarei ficar estudando os grandes que ficam nas estações para orientar.
Clima. De tardinha quando saio do trabalho noto com frequencia que as únicas pessoas a usarem casaco são os executivos engravatados, velhinhos que já sentem os efeitos da artrite e eu. Aqui também demora muito pra ficar escuro. Às 18 horas aqui parece cinco e pouca. Não entendi a moral do horário de verão.
Desbravando a cidade. Por enquanto só conheci, além do pouco que já explorei de outras vezes, o pátio da escola onde São Paulo começou perto da Sé. Tem um monumento bacana.
Paixão por placas. Aqui em tudo tem placa, o que é bom para se orientar. Mas o povo aqui é meio doidinho. Pregam placas assim: Imobiliária X alugou ou Imobiliária Y vendeu. Agora para que interessa saber que o imóvel não tá mais disponível? Por que não tirar a placa de Aluga ou Vende quando o negócio fechar? A indústria de placas aqui deve faturar horrores.
Diferenças linguísticas. Estou a ponto de, ao próximo "meu" que falarem se dirigindo a minha pessoa, explicar que "meu" de onde venho é um pronome possessivo para identificar algum pertece do gênero masculino.
Revanche. Pau da Lima, Rio Vermelho, Mussurunga, Sussuarana são motivos para gracinhas com baianos. Devolvam com Itaim Bibi. Sério, parem de ler e pronunciem Itaim Bibi. Não é engraçado? Parece onomatopéia. O nome não diz pn! Descobri que eles tem Itaim e Itaim Paulista. São três bairros diferentes, hein? Vai gostar de Itaim assim lá longe...
Paulistas e cariocas. Essa é uma guerra perceptível em todos os níveis que você imaginar. Estavam perguntando se aí em Aracaju tinha McDonalds. Após respirar fundo e explicar que não morava no meio do nada, passamos por um outdoor do supermercado Extra. Falei com a pronúncia fechada sem maldade. Fui corrigida imediatamente: Êxtra não, Éxtra, quem fala Êxtra é carióca, porrr favorr! Repliquei: por favor só tem dois errés, não precisa falar com mais de um que eu entendo!!

Moradia. Divido apartamento com uma amiga, numa rua subindo o metrô da Vila Madalena. Ouço passarinhos cantando de manhã e tenho um vizinho violinista. Arrocha com a glória do Senhor não ouvirei tão cedo.
Amigos. Tenho 4 aqui e estou conhecendo novos. No primeiro dia indo para o trabalho, outra Goleira no mesmo vagão do metrô, fomos juntas para o trabalho. Voltando no segundo dia um Goleiro a paisana veio me cumprimentar. Fiquei até com o pé atrás, mas ele se identificou. Parece que estou cercada de amigos invisíveis, que se revelam aos meus olhos aprendizes para perceber a vida de uma megalópole, isso faz com que me sinta em casa.

Resumindo: Estou feliz da vida. Muita coisa para aprender, para viver, pra curtir. Mais uma naturalidade agregada. Sou uma feirense, soteropolina, aracajuana e paulista. Pra mim tá de bom tamanho, mudar é bacana, mas estressa. Os paulistas não sabem o quanto...